Afinal a "verosimilhança" que grande parte dos (e)leitores encontra nos nossos comentadors, opinion makers, e demais 'personalidades', para além de mostrar o grau de estupidificação e de superficialidade a que se chegou, entre nós, confirma uma confrangedora ignorância sobre o mundo, a política e a sociedade, a vida, e os mecanismos que a regem. O problema não está no desconhecimento, ou falta de acesso, a visões alterantivas ou diferentes: está no desconhecimento absoluto de tudo. Afinal, em tese, qualquer ser razoável, com uns rudimentos de história, de cultura geral, de experiência de vida, desconfiaria imediatamente de muito do que por aí se diz e escreve, como se verdade/realidade absoluta fosse. Sucede que os factos per se não interessam. Interessa é o momento, o 'espectáculo' - mistela esotérica que oscila entre o simplismo,o fantástico e o populismo que tem animado o mundo e as primeiras páginas de todos os jornais e as aberturas de todos os telejornais. Infelizmente, vivemos numa sociedade infantil que precisa de ser distraída com sociedades secretas, grandes máximas de gurús de ocasião, conspirações tenebrosas, cabalas, cassetes e envelopes, segredos que abalem a humanidade e heresias inconsequentes que se esquecem de um dia para o outro com a estreia de um filme, uma micro-causa, ou unas férias de Verão. Fica, no entanto, o essencial: a imensa distância que existe entre a realidade e os interesses que parecem reger as sociedades ocidentais, e em particular a nossa. No fundo, a realidade é já hoje um corpo minoritário num mundo que ainda não desistiu de influenciar. Parafraseando o cardeal Ratzinger: "Talvez as pessoas possam sentir que a oposição à ideologia banal que domina o mundo é necessária e que se pode ser moderno, precisamente quando se é antimoderno, ao opor-se ao que todos dizem."
Constança Cunha e Sá, In Público.
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