terça-feira, novembro 29, 2005

«Serviços de proximidade»

«Ao contrário do que seria de esperar parece que ninguém reparou que o futuro Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento, que terá a sede em Braga, será presidido por um espanhol. Receio que o silêncio não se deva a que se ache natural a coisa. E que se deva a outros factores. O Instituto não ser uma empresa, a sua sede não ser em Lisboa e os protagonistas não frequentarem o Beato. Tal qual. Ocorre que o facto é relevante. Sobretudo, quando se olha para o entusiasmo do futuro presidente que diz ser possível passar a rivalizar com a pujança científica do Norte da Europa. Quando o século XXI começou – em 1989, com a queda do Muro – o mundo mudou todo. A bola parece igual por fora. Mas por dentro está completamente alterada. Divide-se em grandes regiões, dentro de cada uma em mais pequenas e dentro de cada uma dessas em sub-regiões. De vários pontos de vista, políticos, económicos, científicos, culturais, os vectores de desenvolvimento são transfronteiriços. E cada uma das sub-regiões que agruparão dois, três ou quatro países vizinhos ou partes deles pode e deve potenciar o seu próprio desenvolvimento. Como se tratasse de serviços de proximidade. Alimentados por línguas irmãs ou primas, usos e costumes comuns, até idiosincrasias próximas. Isso explica o êxito dos nórdicos. Pode explicar o sucesso ibérico. Estes serviços separados são irrelevantes mas juntos têm um enorme potencial. Não há razões para que não seja assim. Em várias profissões, sobretudo liberais, caminha-se inexoravelmente para a internacionalização e é assim que deve ser. O discurso de lamúria que um pouco por todo o país campeia e que no Norte se instalou de há muito não contribui com nada de positivo para o futuro. É fácil fazer de vítima, é fácil reclamar, é mais difícil ter a consciência de que, pelo individualismo e pela pequena vaidade, cada um dos protagonistas da lamúria contribuiu para a falta de poder que têm ou, melhor dito, para o poder que deixaram fugir. Temos centros de excelência no plano científico. De comum têm o facto de terem incorporado conhecimento vindo de fora em lugar de excluírem protagonistas que foram para fora. O presidente do futuro Instituto, que também vem de fora, acredita que vai fazer isso e bem. Só pode ser bem-vindo.
Nota – Quem prestou um mau serviço, a si próprio que é o menos e a toda a imagem da classe, foi o presidente do STJ. O discurso que fez no Congresso dos Juízes fez perder a razão por mais razões que tivesse, no meio de um tom azedo, acintoso, turbulento e absolutamente inaceitável para a função e para o evento. Linguagem sindical no seu pior. Um órgão de soberania comporta-se assim?».
Mário Melo Rocha, In Diário Económico, 29/11/2005.

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