terça-feira, março 14, 2006

«Mais de 380 mil crimes ocorreram no País em 2005»

«Em 2005, a criminalidade global diminuiu 6,2%, de acordo com dados do Ministério da Administração Interna. Mesmo assim, a GNR contabilizou mais de 194 mil crimes e a PSP cerca de 190 mil, o que dá mais de 380 mil actos num ano e mais de mil por dia em todo o País. A criminalidade violenta também desceu, sete por cento na área da GNR e de dois por cento na da PSP. Mas, ao todo, foram registados 21 223 crimes, 17 mil pela PSP e 4223 pela GNR. Apesar da melhoria nos números, a polícia portuguesa não hesita em afirmar que o crime tem novas características: mais violência, mais uso de armas de fogo, mais sequelas nas vítimas e mais jovens a praticá-lo. Os assaltos à mão armada são o tipo de crime violento que maior alteração tem registado nos seus padrões. A GNR identificou um aumento de 6,6% na sua área. "O crime está a mudar. Os assaltos à mão armada denotam isso. O acesso às armas é mais fácil e, por vezes, o seu uso é um mero exercício de força e de poder. Além disso, a globalização também facilita a importação de fenómenos criminais, é o que tem acontecido", afirma o tenente-coronel Albano Pereira, da Chefia da Investigação Criminal da GNR. Na Polícia Judiciária dispararam as detenções por este tipo de crime. Na directoria de Lisboa passou de 142, em 2004, para 263. E na estatística da PSP o roubo com armas de fogo representou 17% da criminalidade global, sendo que 58% foram praticados na região de Lisboa. Aliás, no segundo semestre de 2005 foi registado um aumento de assaltos à mão armada, quando logo no início do ano tinha havido uma diminuição. Segundo explicaram ao DN, tal pode ter a ver apenas com a libertação de alguns elementos de 'gangs'. "Na capital, o crime violento é mais contra as pessoas. No Porto, volta-se mais para a destruição de estabelecimentos, já que o comércio ali é mais rico", especifica o chefe de Divisão de Informações Policiais.
O preço do progresso
As várias polícias justificam esta nova característica do crime com o "preço do progresso" e da "globalização". Isto porque as armas de fogo permitem atingir mais rapidamente e sem grande trabalho os objectivos. Por outro lado, são o único meio que consegue combater a maior protecção dada aos bens patrimoniais. Para o sociólogo do Instituto da Polícia Judiciária Eduardo Ferreira, "os assaltos à mão armada estão a aumentar em Portugal como nos outros países. É o preço a pagar por maior sofisticação na protecção dos bens. Qualquer carro tem sistema de segurança, qualquer loja tem videovigilância. Por isso, em termos de estratégia de agressores o que funciona é a maior coacção perante as vítimas para se alcançar o que se pretende". Ou seja, "quanto mais protejo a minha propriedade mais me habilito a ser violentado por causa disso", sublinha. Em 2004 e 2005, aumentaram os roubos de carro à mão armada, alguns com sequestro do proprietário. Segundo explica o director nacional adjunto da PJ, Carlos Farinha, "o que antes era furto de um carro, agora passou a ser roubo, já que se regista violência". Aliás, "mesmo noutro tipo de crime, em que, tradicionalmente, não era usada violência, agora é. As vítimas ficam com mais sequelas". Mas não só. Os danos causados a nível de património também são mais elevados, o que é justificado pelas polícias com a nova actuação dos agressores: preferem armas transformadas - permitem destruir com um só disparo uma montra, é o caso das caçadeiras de canos serrados e as de alarme e de gás, adaptadas às de calibre 6,5 milímetros. E actuam desordenadamente, partindo para a violência sempre que perdem o controlo da situação. Segundo o sociólogo do IPJ, "estes níveis de violência, excessiva ou gratuita, tendo em conta a não resistência dos alvos, podem ser explicados por uma necessidade de afirmação social e de conquista de um estatuto social alternativo por parte de jovens caracterizados por processos de insucesso ou de abandono escolar precoce e de baixas qualificações profissionais", inatingível através da escola, do mercado de trabalho ou da comunidade».
In Diário de Notícias.

Sem comentários: