«O Plano»
«Mas o que é afinal o Plano Tecnológico? Não é mais do que a versão nacional da Estratégia de Lisboa, gizada pela UE. Após algumas peripécias e demissões, o Plano Tecnológico foi apresentado – “oito meses depois do Governo ter tomado posse” como se pode ler na letra do documento. Por entre a decisão de construir o novo aeroporto na Ota, as polémicas na Justiça e a pré-campanha presidencial, mais um pouco e o anúncio de uma das bandeiras do programa de Governo passava despercebido. O Governo de José Sócrates afirma ter assim completo o quadro de governação económica: o Plano Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008 (PNACE), suportado pelo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), pelo Plano Tecnológico (PT) e pelo Plano Nacional de Emprego (PNE). É com este conjunto de siglas e de planos que o Governo se propõe enfrentar os complexos desafios económicos do presente e recolocar Portugal no trilho do crescimento económico. Mas o que é afinal o famoso Plano Tecnológico, também em tempos idos conhecido por Choque Tecnológico? Este plano não é mais do que a versão nacional para os próximos três anos da Estratégia de Lisboa, gizada pela União Europeia e que se propunha transformar o espaço europeu na zona económica mais dinâmica do mundo até 2010. Lá estão muitas das medidas e das directrizes apontadas na Agenda de Lisboa, alicerçadas no triângulo Conhecimento, Tecnologia e Inovação. O problema é que, como os próprios líderes europeus reconheceram quando da reformulação da Estratégia de Lisboa em Março passado, não basta estabelecer metas ambiciosas e proclamar estratégias macroeconómicas. Até ao momento, e passados mais de cinco anos sobre o seu lançamento, os resultados são tudo menos animadores: o crescimento económico da União Europeia é paupérrimo, o desemprego não pára de subir e os índices de tecnologia e inovação não apresentam o vigor necessário para inverter esta situação. Quer isto dizer que o caminho traçado pela Agenda de Lisboa é errado e que não se revela de qualquer utilidade a projecção de planos que vertam para a esfera nacional a prossecução dos seus objectivos? Não. Quer apenas dizer que a elaboração destes planos não é suficiente para que se possa injectar mais dinamismo na economia europeia e, pecado mortal, muito menos pode ser vista como uma varinha mágica à disposição do Estado, capaz de inverter o actual quadro de decadência da actividade económica na Europa e, muito particularmente, em Portugal. O mérito destes planos é o facto de poderem servir de base para uma acção estratégica concertada e coerente das diversas entidades e programas estatais, de poderem agregar dados interessantes quanto ao desempenho de diferentes sociedades de forma comparada e como instrumento de “benchmarking”, para além de poderem ter um efeito de mobilização, e de motivação, muitas vezes subjectiva nos diversos actores sociais. Mas não se pense nestes planos como uma panaceia para os nossos atrasos, nem tão-pouco como a alavanca fundamental capaz de acelerar o nosso crescimento económico. A verdadeira alavanca económica reside hoje, como no passado, nas empresas. É na capacidade de criação de produtos que acrescentem valor e que sejam competitivos no mercado internacional que está a chave do problema. Portugal necessita avidamente de produzir produtos capazes não só de resistirem num mercado cada mais aberto, como de conquistarem espaço nos mercados internacionais. E isto não se consegue com planos mais ou menos tecnológicos. Consegue-se com melhor gestão, com inovação centrada no cliente, com mais exposição internacional e, sobretudo, com muito trabalho».
Nuno Sampaio, In Diário Económico, 29/11/2005.


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