«As crianças não mentem»
«Os riscos das certezas equívocas. Os erros do processo Casa Pia e a conduta de figuras que são responsáveis por contribuírem para a confusão e histeria.
O recente acórdão do Tribunal da Relação, para além de ilibar definitivamente Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves, considerando não haver motivos para a sua pronúncia (ou seja, para os levar a julgamento) acrescenta ainda, numa crítica clara ao modo como o processo foi conduzido, que, dada a insuficiência de prova, nenhum dos três devia ter sequer sido acusado. Ou seja, que houve pessoas cujo bom nome foi posto em causa, que tiveram as sua vidas prejudicadas, uma delas passando quase um ano na prisão, sem razões que o justificassem. E com as consequências políticas que se conhecem.
Infelizmente, há muito que eram visíveis as deficiências da investigação e da instrução do processo e foram várias as pessoas que alertaram para elas. Mas claro que, na sequência do acórdão, com o peso acrescido de ser uma decisão por unanimidade dos três juízes, as vozes críticas se multiplicaram e subiram de tom. Com a tendência crescente para personalizar as críticas, «centrando-se» menos nos «erros» cometidos e mais em quem os cometeu.
Como seria de esperar, os «alvos» preferidos são Souto Moura, Rui Teixeira e, sobretudo, João Guerra (o procurador encarregue do processo e um dos seus protagonistas mais enigmáticos - primeiro, porque raramente faz declarações públicas, não se põe a jeito para as câmaras, e duvido que muita gente lhe conheça a cara, o que só abona a seu favor; segundo, porque, ao que parece, se trata de uma pessoa que tinha uma carreira meritória e uma reputação de competência, o que torna os «erros» deste caso ainda mais incompreensíveis).
Mas como nem procuradores nem juizes podem responder livremente às críticas que lhes são feitas, prefiro comentar a conduta de outras figuras que partilham das responsabilidades, nomeadamente por contribuírem para o clima de confusão e histeria que se colou ao processo. Um grupo vasto, onde se incluem alguns jornalistas sem escrúpulos, «especialistas» vários, teóricos da cabala, etc...
Um grupo no qual também se incluem pessoas que tinham a obrigação de agir com serenidade e bom-senso e a quem penso ser legítimo pedir contas, porque são pagas com o dinheiro dos nossos impostos. Refiro-me nomeadamente a Catalina Pestana e Pedro Strech, cuja função penso que consistia em apoiar as vítimas e não contribuir para a confusão, proferindo declarações pouco rigorosas, ou, por vezes, no caso de Catalina Pestana, claramente demagógicas e incendiárias. Exemplo disso, é a famosa frase: «As crianças não mentem».
Não há dúvida que «soa bem» e tem impacto. Parece quase um slogan. Que vende bem ideias erradas. Desde logo, porque ao afirmar-se, com ar de absoluta certeza, que «as crianças não mentem», também se está a dizer implicitamente que não há a mínima dúvida que «os réus são culpados». E isso, por mais boas intenções que Catalina Pestana possa ter, é algo que ninguém tem o direito de dizer, mesmo implicitamente. As únicas pessoas que sabem quem mente e quem diz a verdade, são as vítimas e aqueles a quem acusam. Ou quem tiver testemunhado os actos. O que não é o caso de Catalina Pestana. Nem o meu. Nem o de quem me está a ler, com toda a probabilidade.
Infelizmente, os problemas da frase de Catalina Pestana não são apenas aquilo que tem implícito. Mas isso fica para a próxima crónica».
Joaquim Leitão, In Portugal Diário, 06/12/2005.
O recente acórdão do Tribunal da Relação, para além de ilibar definitivamente Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves, considerando não haver motivos para a sua pronúncia (ou seja, para os levar a julgamento) acrescenta ainda, numa crítica clara ao modo como o processo foi conduzido, que, dada a insuficiência de prova, nenhum dos três devia ter sequer sido acusado. Ou seja, que houve pessoas cujo bom nome foi posto em causa, que tiveram as sua vidas prejudicadas, uma delas passando quase um ano na prisão, sem razões que o justificassem. E com as consequências políticas que se conhecem.
Infelizmente, há muito que eram visíveis as deficiências da investigação e da instrução do processo e foram várias as pessoas que alertaram para elas. Mas claro que, na sequência do acórdão, com o peso acrescido de ser uma decisão por unanimidade dos três juízes, as vozes críticas se multiplicaram e subiram de tom. Com a tendência crescente para personalizar as críticas, «centrando-se» menos nos «erros» cometidos e mais em quem os cometeu.
Como seria de esperar, os «alvos» preferidos são Souto Moura, Rui Teixeira e, sobretudo, João Guerra (o procurador encarregue do processo e um dos seus protagonistas mais enigmáticos - primeiro, porque raramente faz declarações públicas, não se põe a jeito para as câmaras, e duvido que muita gente lhe conheça a cara, o que só abona a seu favor; segundo, porque, ao que parece, se trata de uma pessoa que tinha uma carreira meritória e uma reputação de competência, o que torna os «erros» deste caso ainda mais incompreensíveis).
Mas como nem procuradores nem juizes podem responder livremente às críticas que lhes são feitas, prefiro comentar a conduta de outras figuras que partilham das responsabilidades, nomeadamente por contribuírem para o clima de confusão e histeria que se colou ao processo. Um grupo vasto, onde se incluem alguns jornalistas sem escrúpulos, «especialistas» vários, teóricos da cabala, etc...
Um grupo no qual também se incluem pessoas que tinham a obrigação de agir com serenidade e bom-senso e a quem penso ser legítimo pedir contas, porque são pagas com o dinheiro dos nossos impostos. Refiro-me nomeadamente a Catalina Pestana e Pedro Strech, cuja função penso que consistia em apoiar as vítimas e não contribuir para a confusão, proferindo declarações pouco rigorosas, ou, por vezes, no caso de Catalina Pestana, claramente demagógicas e incendiárias. Exemplo disso, é a famosa frase: «As crianças não mentem».
Não há dúvida que «soa bem» e tem impacto. Parece quase um slogan. Que vende bem ideias erradas. Desde logo, porque ao afirmar-se, com ar de absoluta certeza, que «as crianças não mentem», também se está a dizer implicitamente que não há a mínima dúvida que «os réus são culpados». E isso, por mais boas intenções que Catalina Pestana possa ter, é algo que ninguém tem o direito de dizer, mesmo implicitamente. As únicas pessoas que sabem quem mente e quem diz a verdade, são as vítimas e aqueles a quem acusam. Ou quem tiver testemunhado os actos. O que não é o caso de Catalina Pestana. Nem o meu. Nem o de quem me está a ler, com toda a probabilidade.
Infelizmente, os problemas da frase de Catalina Pestana não são apenas aquilo que tem implícito. Mas isso fica para a próxima crónica».
Joaquim Leitão, In Portugal Diário, 06/12/2005.
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