quinta-feira, janeiro 12, 2006

Artigo de Opinião

«Um país sem rumo», de Artur Osório Araújo, médico, In O Primeiro de Janeiro, 12/01/2005.
«Há muito tempo que pairam sinais inquietantes na sociedade portuguesa. Os dinheiros fáceis, criaram uma cultura de ociosidade protegida e, até fomentada, por um Estado incompetente. As Escolas e as Universidades, como pólos dinamizadores, alargaram conhecimentos, mas não expandiram horizontes. Geraram muita gente amorfa, sem capacidade crítica, preparados para o imediato e para as paróquias, mas muito longe de serem capazes de serem motores de desenvolvimento sustentado. As outras Instituições, têm vivido como agencias de emprego, subordinadas às corporações e à visão distorcida do serviço público. Mesmo, o tecido produtivo privado, dificilmente se vai adaptando aos novos desafios e sonha, em demasia, com protecções e apoios do Estado. Ao longo de estes anos, fomos conhecendo e exacerbando tudo o que o capitalismo tem de mal e relegando o que terá de bom. A falta de valores e referências, despoletou mecanismos que tornam possível que, meia dúzia de apaniguados ou atrevidos, com facilidade dominam uma máquina partidária e, com a mesma, uma autarquia ou uma instituição do Estado. Mercê do imediatismo, não tem havida sentido estratégico na governação. Tomam-se as medidas em relação às pessoas, e não às necessidades do País. A autonomia e a grandeza das instituições, é submergida pela avidez do centralismo e pela fraqueza dos gestores, impostos por via política. As pessoas, já fartas do cultura do "porreirismo”, do “sempre fiche”, dirigiram os seus votos, elegendo um Governo que anunciou novos rumos e medidas. Passados meses, já é possível avaliar o comportamento dos seus membros, dos deputados e gente que mais. Desafiaram-se os magistrados, os professores e outros funcionários, cobriram-nos com o manto diáfano da preguiça. Retiraram-lhe expectativas na reforma, em nome da salvação da pátria, corporizada no déficit público. Mas tudo continua rigorosamente igual, não há alterações estruturais absolutamente nenhumas. Aumentaram-se as receitas públicas mas, a nível da despesa do Estado, prossegue a total ausência de controle. Consagra-se a arte, de parecer fazer, sem nada acontecer, nomeando-se comissões e grupos de trabalho, algumas com vinte e mais membros. Anunciam-se as obras do século, as mais fáceis de proclamar e talvez levar a cabo, mas que mais uma vez, só satisfarão os eternos beneficiários do regime – os grandes empreiteiros. Na época em que a aviação de baixo custo está a progredir, alguém irá de TGV para a Europa? Alguém do Norte do País aceitará ter de se deslocar para o mundo, através da Ota, em vez de se desenvolver o aeroporto Sá Carneiro? Até ,o plano tecnológico, que poderia ser considerado uma esperança, esfuma-se num manifesto banal de intenções e não surge como um projecto estruturado e realizável. A podridão do poder, vai ao ponto de se justificar uma clara traficância de influencias de um dos dignatários do sistema, reduzindo-se, a ética política, ao direito republicano. Por este andar, a entrada de leão do Governo, terá uma saída de sendeiro! Há nove meses o País estava mal. Hoje, não há evidência nenhuma que esteja melhor. À medida que o tempo passa, esfuma-se a esperança e continua a hipotecar-se o futuro. A situação internacional também não é fácil, o que torna complicado parametrizar opções estratégicas. Mas, o Governo, assumiu responsabilidades e promessas. Tem muito a fazer, para além do ar duro e carrancudo, assaz crispado, que tem dado à governação. Qual é o rumo para o País? Para a Educação? Para a justiça? Para a Saúde? Para as finanças públicas e para a economia? O Governo não deve estar zangado com o País. O País é que pode estar zangado com o autismo do Governo. A incompetência estratégica de quem está no poder, até se manifesta na escolha do seu candidato presidencial. Um homem que faz parte da história do País, embalado pela vivacidade inconsciente que a velhice trás, é empurrado para uma batalha inglória. Mesmo, se o acaso lhe desse a quase impossível vitória, ficaria o País sujeito a ter um Presidente, com fortes probabilidades de sofrer quebras acentuadas das suas faculdades físicas ou mentais,sem que o próprio, disso tivesse consciência. Um rumo para o País, procura-se !»

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