«Rastrear delinquência aos 3 anos»
«O Instituto Nacional da Saúde e da Investigação Científica e Médica, prestigiada instituição em França, defende o rastreio dos problemas comportamentais nas crianças de três anos, de forma a prevenir a delinquência na juventude.
De acordo com os investigadores, atitudes como "birras ou desobediências" são indiciadoras de um comportamento delinquente. Os responsáveis entendem também, segundo revela o "Público", que "a frieza afectiva, a tendência para a manipulação, o cinismo e agressividade", além da falta de docilidade e impulsividade, são indicadores de uma "moralidade baixa2 e estão associados à "precocidade das agressões".
O tema já motivou uma petição popular contra o trabalho científico. Vários pediatras, pedopsiquiatras, magistrados e simples cidadãos mostram-se indignados com o relatório. A petição já recolheu mais de 30 mil assinaturas, desde o início da semana.
Apesar de o relatório do Instituto sublinhar que apenas se fala em problemas comportamentais "quando se trata de comportamentos repetidos e duradouros de oposição, de agressividade e de transgressão das regras", o chefe de serviço de pedopsquiatria do Hospital de Necker, em Paris, Bernard Golse afirma categoricamente que "ninguém, no mundo inteiro, pode prever que uma criança que apresenta problemas comportamentais aos três anos será um delinquente aos 15".
"Assino por baixo" as declarações de Golse, refere em declarações ao PortugalDiário Mária José Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Para esta médica, "rotular" uma criança de três anos como futuro delinquente "é eticamente grave" e "cientificamente incorrecto". E explica: "As birras aos três anos podem ter variadas causas, nomeadamente, a manifestação de um disfunção familiar ou problemas de desenvolvimento intelectual".
A realizar-se o estudo, "então que sirva para despistar as crianças que precisam de ajuda, inseridas por exemplo em contextos familiares problemáticos, para ajudá-las a resolver os seus problemas", defende a clínica.
Uma juíza do tribunal de menores, em França, Muriel Eglin, lamenta que, tanto o Instituto como o Ministério do Interior, "analisem um pequenino como um desordeiro", e "não liguem ao sofrimento que o seu comportamento exprime".
A intensidade da polémica deve-se também ao facto de o referido estudo estar a inspirar a reforma da política de segurança do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. Os subscritores da petição acusam mesmo o Instituto de se prestar ao papel de "verniz ciêntifico" às medidas de segurança reforçada que Sarkozy pretende implementar.
Os subscritores da petição não criticam o rastreio dos problemas comportamentais, mas recusam que aquele sirva para prever a delinquência e que, como tal, seja usado para fins de segurança e de manutenção da ordem pública».
In Portugal Diário, de 02/03/2003.
De acordo com os investigadores, atitudes como "birras ou desobediências" são indiciadoras de um comportamento delinquente. Os responsáveis entendem também, segundo revela o "Público", que "a frieza afectiva, a tendência para a manipulação, o cinismo e agressividade", além da falta de docilidade e impulsividade, são indicadores de uma "moralidade baixa2 e estão associados à "precocidade das agressões".
O tema já motivou uma petição popular contra o trabalho científico. Vários pediatras, pedopsiquiatras, magistrados e simples cidadãos mostram-se indignados com o relatório. A petição já recolheu mais de 30 mil assinaturas, desde o início da semana.
Apesar de o relatório do Instituto sublinhar que apenas se fala em problemas comportamentais "quando se trata de comportamentos repetidos e duradouros de oposição, de agressividade e de transgressão das regras", o chefe de serviço de pedopsquiatria do Hospital de Necker, em Paris, Bernard Golse afirma categoricamente que "ninguém, no mundo inteiro, pode prever que uma criança que apresenta problemas comportamentais aos três anos será um delinquente aos 15".
"Assino por baixo" as declarações de Golse, refere em declarações ao PortugalDiário Mária José Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Para esta médica, "rotular" uma criança de três anos como futuro delinquente "é eticamente grave" e "cientificamente incorrecto". E explica: "As birras aos três anos podem ter variadas causas, nomeadamente, a manifestação de um disfunção familiar ou problemas de desenvolvimento intelectual".
A realizar-se o estudo, "então que sirva para despistar as crianças que precisam de ajuda, inseridas por exemplo em contextos familiares problemáticos, para ajudá-las a resolver os seus problemas", defende a clínica.
Uma juíza do tribunal de menores, em França, Muriel Eglin, lamenta que, tanto o Instituto como o Ministério do Interior, "analisem um pequenino como um desordeiro", e "não liguem ao sofrimento que o seu comportamento exprime".
A intensidade da polémica deve-se também ao facto de o referido estudo estar a inspirar a reforma da política de segurança do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. Os subscritores da petição acusam mesmo o Instituto de se prestar ao papel de "verniz ciêntifico" às medidas de segurança reforçada que Sarkozy pretende implementar.
Os subscritores da petição não criticam o rastreio dos problemas comportamentais, mas recusam que aquele sirva para prever a delinquência e que, como tal, seja usado para fins de segurança e de manutenção da ordem pública».
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